domingo, 8 de dezembro de 2024

Árvore Sombreira

Ao abrir a porta sou recebido pelos primeiros raios de sol, que filtram através das folhas e flores da árvore que fica em frente à casa. A luz dourada se espalha através das flores vibrantes, lançando sombras se movendo entre seus raios que se estendem pelos carros estacionados abaixo, cada um inclinado refletindo o brilho da manhã. Faço uma pausa por um momento e, nesse instante, meus sentidos despertam — lentamente, gradualmente, mas inconfundivelmente. 

As cores ao meu redor parecem mais ricas, mais vívidas, e os sons, antes distantes e abafados, agora ressoam com uma clareza extraordinária. Há um zumbido silencioso no ar, o murmúrio da vida se agitando, e neste momento, reconheço algo profundo: esta não é apenas a chegada da primavera indicando a passagem do tempo; esta é uma experiência, uma essência universal que existe além dos limites do próprio tempo. É uma primavera humana, um reflexo da conexão mais profunda entre a natureza e o mundo visível. Uma força atemporal, algo além dos ciclos que impomos a ela. 

Enquanto estou aqui, entre o presente e o infinito trecho da eternidade, percebo que o que estou testemunhando não é apenas um momento, mas o ritmo muito mais antigo que a vida humana, algo intimamente ligado a ela. Este não é apenas um vislumbre da natureza, mas o pulso visível da própria vida, revelando sua lei eterna, sua constância que não precisa ser medido pelo tique-taque dos relógios ou pela contagem dos dias. Aqui, o tempo não é quantificado pela razão ou propósito; ele é incorporado na luz, na brisa, na presença da sombra — uma experiência que existe no espaço entre a lógica de uma consciência cósmica, e o movimento de uma barquinha real no centro do mar. 

Neste lugar, a pressa do mundo se dissolve. O planejamento da contabilidade e o peso das ações humanas, com suas medições e cálculos rígidos, desaparecem na realidade cármica dos seres. Há uma fluidez que transcende a razão humana, uma força que curva a própria paisagem ao meu redor. As cores e formas da natureza são a verdadeira medida, não do tempo, mas do ser — da própria existência. Aqui, no som silencioso da vida, tudo está alinhado, não em uma progressão linear, mas em um presente eterno onde cada momento se desdobra no próximo, como ondas em uma praia sem fim. E eu também sou parte disso. O próprio tempo se torna elástico, estendendo-se além do alcance mundano da urgência. A este momento, o tempo não é uma progressão linear, mas um desdobramento contínuo, onde passado, presente e futuro converge na singularidade do espaço. Diante de mim, a luz filtrada pelos galhos parece respirar com vida própria, um ritmo mais antigo do que qualquer conceito de medida. Suas bordas brilham suavemente, difundindo-se nos espaços ao redor, e as folhas no chão circulam lentamente na brisa, como se estivessem conversando com o mundo. A brisa também faz parte desse ritmo maior. Ela sussurra verdades tão antigas quanto a terra e tão universais quanto o caminho que se desdobra diante de mim. 

Não é apenas ar; é uma verdade universal, uma linguagem que fala à alma, ignorando o intelecto automático e racional e tocando algo mais profundo. Este caminho — este momento — não é limitado pelo tempo ou lugar, mas existe em seu próprio reino, além do alcance da medição comum, onde tudo, incluindo a luz, é parte de uma força que retorna à atração. Uma presença infinita que remodela e redesenha a paisagem, curvando-se em direção a um horizonte de eventos onde tudo converge — onde tempo e espaço, luz e sombra, são parte de uma lei natural, singular e eterna. 

por João Zanela

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